Análise em Foco > Personalidade
INTERPRETANDO A TRAGÉDIA
Quinta-Feira, 21 de Agosto de 2014

OPINIÃO DO ANÃLISE


Alguns aspectos objetivos a se considerar sobre o incêndio que consumiu parte do Frohsinn nesta quarta-feira, em Blumenau:


- O local estava abandonado, jogado às traças e aos marginais, havia tempo. Por culpa de quem? De diferentes setores da sociedade blumenauense. O consumidor de estratos medianos virou as costas para o lugar, trocando a diferenciação gastronômica e visual daquele ponto pelos bares e lanchonetes que dominaram o mercado do happy hour em Blumenau. Já os mais endinheirados, na hora de apreciar bons pratos e bebida de qualidade, foram para os shopping centers, para os restaurantes de comida japonesa, para as pizzarias e para os pubs, deixando as mesas do Frohsinn livres para as moscas.


E os turistas que visitam a cidade? Possivelmente nem saibam que o lugar existe, e se souberem talvez não consigam chegar até lá. Ou desistam quando encontram o acesso nada estimulante que leva ao local.


O poder público, por sua vez, foi incapaz de cuidar ao menos da infraestrutura. Quem quisesse ir ao restaurante ou ao aconchegante deck para tomar um chope e comer uma porção de aperitivo apreciando a bela vista do local precisaria enfrentar a estrada de terra que leva até lá. Nela, encontra-se poeira e pedras soltas nos dias de sol e muita lama nos dias de chuva – sem falar na escuridão total entre a montanha, de um lado, e o despenhadeiro, do outro. A cláusula descumprida do contrato de concessão, que obrigava o antigo proprietário do restaurante a providenciar a pavimentação do acesso, é só um detalhe mal encaminhado dessa história mal conduzida.  


Querer agora que a prefeitura mantenha um vigia 24 horas por dia para cuidar do local é insanidade, desperdício de dinheiro público. Ou entrega-se a área para exploração e manutenção, em regime de concessão, ou deixa-se o local vazio (para não gerar problemas como a movimentação de meliantes nem custos desnecessário de manutenção e proteção patrimonial).


O imóvel não é lá tão histórico assim, convenhamos. Recebeu um ex-presidente da República e outras figuras ilustres, é verdade, mas é relativamente recente (construído em 1968, não tem meio século) e não está tombado como patrimônio histórico e arquitetônico.


- Quem olhar de perto o estado em que ficou o imóvel após o incêndio, perceberá que a reconstrução, se de fato ocorrer, não será nenhuma operação fantástica. Basicamente o que se perdeu foi madeira, tanto do assoalho quanto do forro e do telhado. As partes de alvenaria e a composição estrutural, aparentemente, seguem em perfeitas condições.


- O interesse na recuperação parece latente. Nesta quinta-feira, longa conversa ao telefone entre dois interlocutores, um deles presente no local, deu a nítida impressão de que tratativas sobre o assunto já poderiam estar em curso. A prefeitura, em nota oficial, já informou sobre a possibilidade de restauração. Logo, portanto...


- A reconstrução do local deve ser encorajada, desde que  acompanhada de um conjunto de iniciativas que devolvam não só o imóvel ao Morro do Aipim, mas também os consumidores ao novo estabelecimento. Caso contrário, vai ser só mais um bom punhado de dinheiro jogado fora.


- Os que agora exercitam oportunismo ao propagar a lamúria surrada de sempre, na maioria das vezes em tom de clichê, ficam todos convocados a se dirigir ao Morro do Aipim caso o imóvel seja restaurado e volte a abrigar estabelecimento gastronômico. Chorar lágrimas de crocodilo agora para depois esquecer do local na hora de gastar dinheiro não ajuda em nada. Aí é melhor optar pelo silêncio, afinal.


Já o poder público, que é o proprietário do local, que dê mais atenção a ele. Na tarde desta quinta-feira, um batalhão de veículos, equipamentos e servidores públicos estava lá, executando alguns serviços. Que a mobilização continue depois, principalmente na hora de fazer com que um dos pontos mais bonitos da cidade volte a ter vida própria.


- E a pergunta que jamais vai querer calar: se o imóvel vai ser recuperado após o incêndio, porque não recebeu investimento e atenção enquanto ainda estava inteiro? Podem sobrar justificativas, mas ainda assim a dúvida permanecerá inquietante.




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